O estudo mostra as principais tendências da evolução da desigualdade no interior do mercado de trabalho para as seis principais regiões metropolitanas brasileiras, desde março de 2002
Mulher, pobre, com mais de 11 anos de escolaridade e idade entre 21 e 40 anos. Este é o perfil do desemprego nas principais metrópoles brasileiras. A conclusão consta do estudo A Desigualdade no Desemprego no Brasil Metropolitano, divulgado nesta terça (22) pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).
O presidente do Ipea, Márcio Pochmann explicou que o estudo abrange o conjunto das seis principais regiões metropolitanas que, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), representam 25% da população brasileira: Porto Alegre, São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Salvador e Recife. E ele mostra as principais tendências da evolução da desigualdade no interior do mercado de trabalho para as seis principais regiões metropolitanas brasileiras, desde março de 2002, afirmou.
Segundo o Ipea, em julho deste ano, a taxa de desemprego entre os pobres foi de 23,1%. É 5,2 vezes maior do que a daqueles que não se encontravam em situação de pobreza, disse o presidente do Ipea. No mesmo período, a taxa de desemprego para os trabalhadores não pobres foi de 4,4%. O Ipea considera pobre o indivíduo cuja renda mensal per capita da família, ou seja, por pessoa, é de, no máximo, meio salário mínimo.
Quanto distribuição pessoal de renda, em julho deste ano, registramos que os 20% mais pobres respondiam por 40,4% do desemprego, enquanto os 20% mais ricos correspondiam a 5,2%, informou Pochmann. Além disso, mais de 80% da composição absoluta do desemprego estão concentrados entre as pessoas de até 40 anos de idade. Segundo o estudo, nesse período, 59,9% dos desempregados tinham idade entre 21 e 40 anos, e 23% com até 20 anos.
Os homens representavam 44,8% dos desempregados em julho deste ano. Em março de 2002, eles representavam 47,7%. Isso nos mostra que as mulheres são o contingente mais elevado de desempregados nas regiões metropolitanas analisadas, mesmo tendo elas aumentado sua participação no mercado de trabalho. E se ela for pobre então, tem 38% a mais de chances de estar desempregada, afirmou o presidente do Ipea.
Segundo o estudo, 27,1% das mulheres pobres estão desempregadas. O índice de desemprego cai para 5,4% quando o perfil é o de mulher não pobre. Já em relação aos homens, 19,6% dos pobres estão desempregados, índice que cai para 3,6% quando se trata de homens não pobres.
Pochmann explica que a taxa de desemprego entre os pobres subiu porque o número de desempregados pobres foi reduzido. E, graças às políticas de garantia de renda, o país conseguiu evitar que, mesmo ficando desempregado, o indivíduo passe a figurar imediatamente como pobre, completou.
Um ponto que chamou a atenção dos técnicos foi a questão da escolaridade: os desempregados pobres tendem a ter maior dificuldade de conseguirem uma vaga no mercado de trabalho, mesmo tendo mais escolaridade.
Isso nos leva a crer que a educação é condição necessária para o acesso a um melhor posto de trabalho, mas não é necessariamente suficiente para isso, disse o pesquisador.
A maior parte dos desempregados registrados em julho (56,1%) frequentaram a escola durante 11 ou mais anos. No mesmo mês de 2002, eram 35,6% o número de desempregados com a mesmo tempo de escolaridade. Em julho de 2005, o índice aumentou para 45,8% e, em 2007, para 49,8%.
Muitas conclusões podem ser extraídas dessa informação. Em primeiro lugar, mostra que existe, sim, um preconceito que acaba por valorizar as pessoas de origem não pobre. Há também a questão do racismo, uma vez que há, entre os pobres, um maior número de negros. Além disso, a competição é mais acirrada quando o que há em vista são os melhores postos de trabalho, analisou Pochmann.
O ritmo de expansão da escolaridade, segundo ele, tem sido maior do que o ritmo de criação de empregos para este grupo. Bens primários não geram empregos de qualidade e o Brasil precisa ter mais qualidade nas vagas geradas, na busca por produtos com maior valor agregado, afirmou o presidente do Ipea.
É bom lembrar que escolaridade é diferente de qualificação, que significa adaptação específica a um determinado posto de trabalho, completou.
Fonte Gazeta do Povo
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