Muita gente se surpreende quando o catarinense Henrique Adamczyk conta que há 18 anos está no mesmo emprego. Ou melhor, na mesma empresa — a rede paranaense de franquias de cosméticos O Boticário, com sede em São José dos Pinhais, na região metropolitana de Curitiba. Aos olhos do mercado, sua carreira parece pouco interessante, sem a riqueza de experiência daqueles que têm a oportunidade de passar por várias organizações com diferentes estilos e métodos.
Essa visão, contudo, é equivocada. A empresa onde Adamczyk trabalha pode ser a mesma, mas, ao longo de quase duas décadas, seu crachá teve de ser refeito uma dezena de vezes. “Tive vários empregos dentro do próprio Boticário”, diz Adamczyk, atualmente diretor de desenvolvimento e transformação organizacional — área que teve de ser inventada em novembro de 2007 para abrigar tanto o setor de TI (tecnologia da informação), onde Adamczyk construiu sua carreira, quanto o de RH, que o executivo passou a acumular desde então.
Até chegar a esse cargo, Adamczyk percorreu um longo caminho, embora tenha só 42 anos. Engenheiro com especialização em automação industrial, ele trabalhou anteriormente na Eletrosul, na Itaipu Binacional e na Refinaria Presidente Getúlio Vargas (Repar). Ingressou no Boticário em 1991, como analista de TI. Logo foi chamado para fazer parte de uma equipe encarregada de repensar a organização, redesenhando o funcionamento da empresa. Foi nessa época que O Boticário adotou a administração orientada por processos — estilo de gestão que enfatiza as pessoas e os processos —, e Adamczyk começou a se envolver com a área de supply chain (cadeia de suprimentos). Ele iniciou, então, uma trajetória dentro da empresa que o levaria à gerência de logística, depois à de suprimentos e à implantação de um grande projeto de ERP (sistema de gestão empresarial). Em 2001, Adamczyk voltou às origens, como gestor responsável pela área de TI. Sua missão era “arrumar a casa”, que precisava focar mais em negócios. “Era preciso dar um novo posicionamento à área de TI”, diz Adamczyk. Em sua visão, havia duas frentes a ser trabalhadas na área de TI. Uma mais técnica, que cuida da infraestrutura tecnológica; e outra mais gerencial, que visa fortalecer os processos da área de negócios e permitir uma visão de longo prazo por meio do planejamento empresarial. Nasceu, assim, em 2003, a diretoria de tecnologia da informação e gestão, que passou a ocupar um espaço estratégico na companhia.
O faz-tudo
Como um processo que nunca termina, a direção de O Boticário percebeu que a área de RH não tinha evoluído no mesmo ritmo das demais. A essa altura, Adamczyk já tinha conquistado a fama de alguém capaz de adaptar-se rapidamente a qualquer setor para resolver o problema da vez na empresa. Ele sempre era convocado para arrumar, estruturar, implantar, modificar. Resultado: foi convidado a acumular as diretorias de TI e RH. Foi assim que nasceu, há dois anos, a tal diretoria de desenvolvimento e transformação organizacional, criada sob medida para Adamczyk.
Uma consequência natural da união das duas áreas sob a batuta de Adamczyk é que o RH está adquirindo ferramentas e formas de pensar típicas do pessoal de TI, modificando a visão do processo. Trata-se de um verdadeiro “choque de gestão”, com a implantação de ferramentas para medir resultados e avaliar o desempenho, tanto do setor quanto dos funcionários. Foi criado um portfólio em que são listados todos os serviços prestados pelo RH e estabelecidos prazos de realização para cada uma das funções. O setor tem de funcionar dentro desses parâmetros. Com tudo anotado e mensurado, a área passa a funcionar no ritmo da moderna tecnologia da informação. “A prática no gerenciamento de projetos — o estabelecimento de objetivos claros e metas bem concretas — desenvolve uma capacidade de realização muito grande”, diz Adamczyk.
No comando do RH, o executivo estabeleceu como uma de suas metas a valorização das pessoas. “Não adianta ter pessoal altamente qualificado se não houver um norte bem definido para os colaboradores canalizarem sua energia”, afirma. Por isso, a ideia é realizar avaliações periódicas para preparar os funcionários para assumir outros postos, sempre um degrau acima na escala hierárquica. Ao incluir as pessoas na pauta estratégica da organização, O Boticário passou também a estabelecer planos de desenvolvimento individualizado para os funcionários, levando em conta suas aptidões e seus interesses. Avançando um pouco mais, a empresa está estruturando um Centro de Capacitação, com ênfase em liderança, que deve, no futuro, transformar-se em um colégio ou em uma universidade de O Boticário. O centro ainda está em fase de planejamento.
Agora que o setor de TI está estruturado para conseguir viabilizar projetos de todas as áreas da empresa, alavancando o nível de produtividade, e o RH é capaz de funcionar no mesmo ritmo e avançar na capacitação das pessoas, pode-se dizer que a diretoria de Adamczyk está à frente do restante da empresa, para suprir suas necessidades no momento em que elas surgirem. Segundo o executivo, é necessário tentar se antecipar às demandas de outros setores. “Se ficarmos esperando que surja uma demanda, não teremos tempo para dar uma resposta rápida”, diz Adamczyk.
Com a bagagem acumulada em quase duas décadas em O Boticário, Adamczyk virou o melhor exemplo dos benefícios do chamado job rotation, o rodízio de funções dentro de uma companhia, para que o gestor adquira conhecimentos de outras áreas. Segundo o consultor de RH Bernt Entschev, de Curitiba, a prática do rodízio é motivada, muitas vezes, por uma situação de emergência, mas, se der tudo certo, pode ser uma alavanca enorme para os dois lados: a empresa ganha porque o gestor adiciona experiência à nova função, e ele passa a ver a empresa por outro prisma. “As decisões serão melhores, já que toda experiência contribui para ampliar a visão e as opções de uma pessoa”, diz Entschev. “Há de se ter, no entanto, cuidado para escolher o homem certo, na hora certa.” O Boticário soube escolher.
Fonte Você RH
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